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Ensinamentos de Lady Gaga, São Jorge e Jesus Cristo para enfrentar o HIV
💡 Mais Leve Do Que Nunca - Edição #023

✨ Super dica: Enquanto você lê esta edição, que tal ouvir "Born This Way", canção de Lady Gaga, na playlist do Mais Leve Do Que Nunca no Spotify?
(🔗Ouça agora no Spotify!)
Olá, Little Monster…
Ansioso pelo mega show da Gaga?
Aposto que você nem reparou, mas na semana passada não teve edição da newsletter.
Essa era a promessa: um texto por semana. Parece fácil, né?
Escrever um texto é rápido. Difícil mesmo é criar algo que prenda a sua atenção.
Algo que tenha sustentado com algum embasamento teórico, que dialogue com as suas dores, que ajude você a se movimentar. Algo que provoque e inspire ao mesmo tempo.
Um texto que agregue valor real e te faça esperar ansiosamente pela próxima edição — como quem maratona uma série da Netflix.
Certa vez, ouvi de um mentor algo que nunca esqueci: “Não existe texto longo ou curto. Existe texto bom ou ruim.”
Manter a promessa de um texto por semana tem sido desafiador desde que assumi a presidência da Impulse Rio. Essa decisão mudou — para melhor — a minha vida.
Você pode conhecer melhor a Impluse Rio e acompanhar tudo que estamos fazendo por lá seguindo o perfil da Impulse no Instagram ( 🔗 Clique aqui!)
Mas, junto com as mudanças, vieram também decisões difíceis, aprendizados duros e novos compromissos. Mas é assim que a gente cresce.
Ainda assim, estou aqui.
Dando um drible na autocobrança e convencendo a mim mesmo de que está tudo bem falhar, desde que a gente siga jogando o jogo.
Aliás, compensar com excelência é uma arte que nós, gays, dominamos como ninguém.
Então, se prepare: na edição de hoje, vou dar o meu melhor — dobrado.
Tem muita coisa para a gente conversar: Páscoa, Jesus Cristo, São Jorge, Ogum e Lady Gaga…
Uma miscelânea de personalidades e uma série de provocações inesperadas para nos lembrar de uma virtude que insistimos em empurrar para a prateleira mais alta do armário do esquecimento: a coragem — não só de ser quem somos, mas, acima de tudo, de nos transformar em quem desejamos nos tornar.
Pega o seu café, seu bloco de notas e sua melhor caneta.
Vamos abrir a mente e o coração para a edição #023 do Mais Leve do que Nunca.
Boa viagem...
Renascer: o milagre que vivemos na carne

A última semana foi cheia de feriados para quem mora no Rio de Janeiro. Além do feriado da Páscoa, que começou no dia 18 com a Sexta-Feira da Paixão e se estendeu até o domingo de Páscoa, também tivemos o dia 23 de abril — Dia de São Jorge, feriado municipal no Rio.
De todas as grandes personalidades históricas, para mim, a mais revolucionária — e, por isso, a mais inspiradora — foi Jesus Cristo.
Chamado de louco, caminhava ao lado dos "estranhos": os excluídos, os marginalizados. Falava de amor ao próximo, perdão, generosidade e solidariedade.
Ideias profundamente revolucionárias e subversivas para os padrões e normas da época.
Imagine um homem absolutamente firme e definido em suas crenças. Sabia quem era e a que veio — e pouco se importava se agradava ou não.
Segundo a fé cristã, Jesus foi perseguido pelos soldados romanos, torturado e crucificado. Três dias após a sua morte, ressuscitou.
E é isso que celebramos na Páscoa.
Para muitos, a Páscoa é apenas um feriado prolongado. Para outros, ela carrega um significado mais profundo: o renascimento.
Renascer pode parecer um mistério reservado à fé, mas, se olharmos com atenção, veremos que todos nós temos o poder — e o dom — de renascer.
Essa verdade se revela com ainda mais força para quem enfrenta um diagnóstico positivo para o HIV.
A descoberta é uma quase-morte. Morrermos ali, com o exame nas mãos.
Mas, paradoxalmente, também é o momento em que renascemos.
Morrer para quem fomos.
Nascer para quem podemos ser.
Esse, sim, é o milagre que vivemos na carne — todos os dias.
A Páscoa é tempo de aproveitar o feriado, de se reunir com quem amamos, de partilhar refeições fartas e, claro, de devorar tanto chocolate quanto o estômago aguentar.
Mas é também um convite: Lembrar que, a cada instante da vida, podemos renascer para uma nova versão de nós mesmos.
Renascer para uma vida mais significativa.
Uma vida nova, que deixa para trás tudo aquilo que nos faz mal, que nos prende, que não nos serve mais.
Na Páscoa, somos chamados a relembrar o nosso propósito maior:
Fazer renascer o amor.
Fazer renascer a esperança.
Fazer renascer a alegria e a generosidade.
Fazer renascer a solidariedade.
Fazer renascer aquilo que nos torna únicos: nossa humanidade.
Essa é uma parte essencial da nossa grande missão.
Tá aí mais um ensinamento que J.C. nos deixou.
Vamos falar mais sobre isso...
Ogum, Jorge e a coragem de ser quem somos

Salve jorge!
Já que o assunto aqui é fé... vamos atravessar o pântano.
Conta-se que, na cidade de Selém, na Líbia, havia um grande pântano onde um dragão aterrorizava tudo e todos. Para aplacá-lo, os habitantes lhe ofereciam dois cabritos por dia e, de tempos em tempos, um cabrito e um jovem tirado à sorte.
Um dia, a "sorte" caiu sobre a filha do rei.
Enquanto a princesa caminhava para seu destino, montado em seu cavalo branco, surge um soldado que, com sua espada, enfrentou e matou o tal dragão.
Assim nasce a lenda de São Jorge — mais que um santo, um arquétipo vivo da coragem, da fé que não negocia com o medo.
Histórias contam que Jorge nasceu na Capadócia, por volta do ano 280, numa família cristã. Transferiu-se para a Palestina e, já soldado do exército romano, viu-se diante de uma escolha impossível quando o imperador Diocleciano decretou a perseguição brutal aos cristãos.
Jorge não hesitou: rasgou publicamente o edito, doou todos os seus bens aos pobres e declarou sua fé em Cristo.
Sua atitude custou caro. Foi torturado, perseguido, decapitado e eternizado.
O maior legado de São Jorge não foi matar um dragão lendário. Foi nos ensinar que a verdadeira batalha é não se trair diante do medo.
Que o maior triunfo é seguir acreditando, mesmo quando tudo e todos ao redor dizem para desistir.
O dragão de fora é metáfora. O dragão de dentro é realidade.
Nossas maiores guerras são internas: medos, culpas, vergonhas, exigências desumanas, vozes que dizem que somos insuficientes, pequenos, incapazes.
E o pior: muitas vezes, somos nós mesmos que alimentamos nossos próprios monstros. São eles que nos amarram, que sabotam nossas relações, nossos sonhos, nossos amores.
Se queremos ser como Jorge, precisamos fazer o movimento mais radical: vestir a armadura da nossa coragem interior e enfrentar, sem rodeios, o que nos destrói por dentro.
📖 Recomendação de leitura:
Temos um inimigo em comum vivendo dentro de nós e ele não é o HIV foi uma edição do Mais Leve Do Que Nunca, dedicada a explorar sobre os nossos inimigos internos.
🔗 Para ler, clique aqui.
Porque cada dragão que evitamos enfrentar, cresce.
Cada dragão que enfrentamos, nos liberta.
Essa é a coragem de ser quem somos.
É disso que fala "vestir as roupas e as armas de Jorge".
Não é ritual decorativo. É simbologia viva.
É posicionar-se firme, sem máscaras, sem concessões, diante do inimigo — dentro ou fora — e declarar: "E não abro mão de mim."
Celebrar São Jorge é celebrar essa força indomável que nos move a seguir, mesmo quando as pernas tremem.
É celebrar o renascimento que acontece toda vez que a gente se escolhe, mesmo com medo.

Ilustração de André Zottich (@andrezottich.art)
Mas o dia 23 de abril carrega ainda outra força monumental: É dia de Ogum!
Na Umbanda e no Candomblé, Ogum é o orixá guerreiro, senhor da guerra, do ferro, da tecnologia e do trabalho. É ele quem abre os caminhos, quem protege os trabalhadores, quem luta contra a injustiça.
Ogum não é apenas aquele que luta fora.
Ogum é aquele que, dentro de nós, nos ensina que a vida exige enfrentamento, não conformismo.
Não é à toa que São Jorge e Ogum se entrelaçam no sincretismo religioso do Brasil. Ambos representam a energia vital de quem não foge da luta, mas também não perde a ternura, nem a fé.
O dia 23 é dia de missa, de oferenda, de terreiro, de espada, de prece, de tambores. É dia de honrar essa coragem ancestral que nos habita e que, tantas vezes, esquecemos que temos.
Por isso, eu também reverencio aqui meu pai Ogum e o santo do meu coração, São Jorge. Ambos me lembram que resistir é existir.
Que ser fiel a quem somos é um ato revolucionário.
Que a coragem de viver a própria verdade é a arma mais poderosa que possuímos.
Dito tudo isso, uma primeira provocação não pode passar despercebida: Qual é o dragão que está atrapalhando a sua vida — mas que você ainda se recusa a enfrentar?
Porque fugir custa mais caro do que lutar — e o dragão, faminto, sempre volta no dia seguinte.
Renascer — ah, renascer! — é privilégio de quem teve a ousadia de atravessar o pântano da incerteza e da insegurança para enfrentar seus piores inimigos: seus próprios dragões.
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Lady Gaga como Ícone da Autenticidade

“Just love yourself and you're set”
Este texto não é sobre religião. É sobre fé — fé em nós mesmos, em quem ainda podemos nos tornar.
Começamos falando de Jesus Cristo, de sua rebeldia amorosa contra as normas do mundo. Falamos sobre o milagre do renascimento. Depois, sobre Ogum, São Jorge, e os dragões invisíveis que combatemos todos os dias dentro de nós.
Era exatamente aí — monstros e dragões — que eu queria chegar para chamar para esta conversa a Mother Monster.
Lady Gaga invade Copacabana no próximo sábado, dia 3, com um mega show gratuito, copiando o formato de Madonna, a Queen que inaugurou essa tradição no ano passado.
Mas Lady Gaga é mais do que uma estrela pop.
Ela é um símbolo vivo da liberdade — e da coragem brutal de existir sem pedir desculpas.
Desde seus primeiros dias, Gaga desafiou tudo: padrões, expectativas, convenções. Em um mundo que nos empurra para dentro de moldes apertados, ela se rebelou. Fez de suas imperfeições uma bandeira.
De sua vulnerabilidade, uma fortaleza.
Em "Born This Way", Gaga não apenas cantou sobre ser diferente. Ela canonizou a diferença como um ato sagrado.
Ela nos lembra: a verdadeira coragem não é parecer forte — é ser quem se é, mesmo quando isso nos torna alvo.
Assim como São Jorge enfrenta seu dragão, Gaga nos ensina a enfrentar os nossos: o medo da rejeição, a vergonha, o desespero silencioso de tentar caber onde não fomos feitos para caber.
Mas Gaga vai além da superfície da provocação estética.
Ela se desnuda em público. Fala de suas lutas com a depressão. Fala de bullying, de dor, de queda. Ela nos mostra que a vulnerabilidade não é fraqueza — é revolução.
Celebrar Lady Gaga é, na verdade, celebrar a nossa própria batalha íntima para existir sem máscaras.
É sobre não pedir desculpas por ser estranho, intenso, sensível, fora do padrão.
É entender que cada um de nós é, também, um milagre em carne viva.
Lady Gaga, a Mother Monster, nos mostra que a verdadeira força nunca esteve em vencer o outro — sempre esteve em não abandonar quem somos.
Ser autêntico é o único ato realmente sagrado

“Axé pra quem é de axé, amém pra quem é de amém”
Caminhando para o final desta edição, fica claro: escrever um texto qualquer é fácil. Difícil mesmo é reunir figuras como Jesus Cristo, Ogum, São Jorge e Lady Gaga — símbolos de coragem, resistência e autenticidade — e entrelaçá-los em um mesmo chamado.
Construir pontes entre fé, cultura e o pop não é apenas uma ousadia estética. É a criação de um novo mapa para a coragem de ser quem somos.
Esse é o verdadeiro fio condutor deste texto: provocar você a romper com a tradição que te acorrenta, com o passado que te sabota, com o medo que te adoece em silêncio.
O convite é simples, mas brutal: renascer.
Renascer para uma vida que abrace sua humanidade imperfeita, suas falhas luminosas e sua singularidade selvagem.
Ser revolucionário hoje não é empunhar bandeiras: é rasgar moldes. É viver sua própria verdade, ainda que o mundo insista em querer te dobrar.
Custe o que custar. Doe a quem doer.
Porque, no fim, ser autêntico é o único ato realmente sagrado que nos resta.
Que hoje você escolha ser maior que seus dragões — e renasça, quantas vezes for preciso, para deixar florescer uma nova versão de você mesmo.
Bom… por hoje ficamos aqui.
Mas lembre-se: o dragão - seja lá qual for o seu dragão - ele sempre volta.
Até domingo que vem.
Abraços,
Filipe
#PodeSerLeve #MaisLeveDoQueNunca
💡📝 Leve para sua análise (painel resumo)
Se você rolou o texto até aqui, neste painel eu reúno todas as provocações que fiz nessa edição para você anotar no seu caderno e trabalhar na sua análise.
📌 (1) Dito tudo isso, uma primeira provocação não pode passar despercebida: Qual é o dragão que está atrapalhando a sua vida — mas que você ainda se recusa a enfrentar?
🔥 Quer a minha ajuda para trabalhar e evoluir nessas reflexões?
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▶️ Pegaleve!
O Pega Leve está de volta para trazer conversas que importam!
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Na edição da semana passada, recebi ela! Victória Carmel (@hivictoriacarmel) que vive com HIV há 7 anos e desde então compartilha sua jornada nas suas redes socias.
Victória compartilhou com a gente sua trajetória como drag Queen e ativista, e como usa sua arte para transformar e inspirar vidas.
🔥 Atualizações da semana: o que rola na minha vida no offline
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Criei uma playlist especial com as músicas que inspiram minhas escritas – e que podem trazer leveza, inspiração e companhia para os seus dias.
✨ Dica: Coloque para tocar enquanto lê a newsletter.
💡 (2) Pensamento da semana:
“O caminho se faz caminhando.”
🎬 (3) O que estou assistindo:
Adolescencia (Netflix)
Qual é a história? Apesar de inspirada em eventos reais, segundo os criadores, a história não foi feita com base em um caso específico. A minissérie com o drama de um garoto de 13 anos acusado de assassinar uma colega de escola, levando a família, a terapeuta e o investigador do caso a se perguntarem: o que realmente aconteceu.
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“Uma análise é árdua e faz sofrer. Mas, quando se está desmoronando sob o peso das palavras recalcadas, das condutas obrigatórias, das aparências a serem salvas, quando a imagem que se tem de si mesmo torna-se insuportável, o remédio é esse. Pelo menos, eu o experimentei e guardo por Jacques Lacan uma gratidão infinita (…). Não mais sentir vergonha de si mesmo é a realização da liberdade (…). Isso é o que uma psicanálise bem conduzida ensina aos que lhe pedem socorro.
GePerec, Penser/classer, Paris, Hachette, 1995. Françoise Giround, Le Nouvel Observateur, N° 1610, 14-20 de setembro de 1995.
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