O remédio não conversa.

💡 Mais Leve Do Que Nunca - Edição #003

Dovato: Tratamento para HIV agora em um comprimido único.


É muito provável que você já tenha me ouvido repetir:

- Os remédios não conversam.

Mas o que será que quero dizer com isso?

Essa frase me veio em um momento especial, um daqueles que transformam a maneira como enxergamos nossa realidade. Foi uma inspiração, uma virada de chave, que aconteceu enquanto eu estava deitado no divã da minha analista, discutindo sobre a sorologia recém-descoberta.

Ali, eu comecei a perceber a importância de falar sobre a infecção como parte fundamental do tratamento, além dos medicamentos. Porque, sozinhos, os remédios não conseguiam aliviar a angústia, a ansiedade, os medos e as inseguranças que vieram junto com o diagnóstico.

O tratamento com Antirretrovirais (TARV) é, sem dúvida, essencial para a manutenção da saúde física e para garantir uma vida com qualidade. Mas eles não conseguiam tocar na saúde dos meus sentimentos, pensamentos e emoções.

Eu precisava de mais do que remédios para aliviar a dor do corpo; eu precisava de algo que aliviasse as dores que assombravam minha alma. Foi ao falar sobre a infecção que comecei a sentir o alívio do peso que minha alma carregava.

“A coisa que eu tentava não falar sobre, porque me deixava angustiado, era exatamente sobre o que eu precisava falar”

— Lothian Andrade

Manifesto Pode Ser Leve:
Curando feridas, transformando vidas.

Os remédios não conversam

Quando o mundo espera pelo conforto do silêncio das coisas que não deveriam ser ditas, acredito que a cura reside na “fala” e no poder transformador que o “poder falar” carrega em si.

Acredito que, para o falar ter potência, é preciso alguém que saiba escutar.
Um escutar atento, sem pressa e sem julgamentos.

Mais do que remédios, as pessoas precisam ser escutadas.
Porque os remédios não conversam.

Acredito que falar sobre aquilo que nos traz sofrimento ajuda a aliviar o peso que sobrecarrega a alma: o peso da culpa, da vergonha e do medo; o peso do silêncio das coisas não ditas.

Acredito no poder e na beleza que reside na leveza.

Leveza que nasce da coragem de apostar, indo na contramão do senso comum, na fala como instrumento de cura e de transformação pessoal e do mundo.

Porque só os remédios não são suficientes

Uma leveza que não nega as falhas, aceita as imperfeições e não silencia a dor, mas a acolhe, compreende e ressignifica.

Resultado disso é a delícia de experimentar a leveza que faz corpo, mente e alma flutuarem.

O Pode Ser Leve, que carrega a minha verdadeira essência, tem uma alma rebelde que é orientada pelo amor e movida pela subversão das normas. Uma alma rebelde revolucionária, que desafia o senso comum e caminha na contramão.

Uma alma rebelde que não se conforma com qualquer coisa e não se contenta com tão pouco.

Uma alma rebelde o suficiente para acreditar que é capaz de através da educação psicoafetiva e do autoconhecimento, mudar o mundo e fazer dele um lugar mais feliz, acolhedor e saudável, com pessoas autênticas, realizadas, felizes e saudáveis física e emocionalmente, e ainda com dinheiro sobrando no bolso.

A Cura pela Fala: O Poder de Colocar em Palavras

Sigmund Freud, o pai da psicanálise

Freud, o fundador da psicanálise, introduziu ao mundo a ideia revolucionária da "cura pela fala".

Esse conceito, originado nos primeiros estudos psicanalíticos, mostra como a verbalização de nossos conflitos internos pode trazer alívio e transformação emocional.

O processo de falar, sobretudo em um ambiente seguro, ajuda a liberar o peso que carregamos silenciosamente e a reconfigurar nossa relação com aquilo que nos causa sofrimento.

Essa abordagem é especialmente significativa no contexto do tratamento para o HIV, que envolve não apenas a manutenção da saúde física, mas também o cuidado com a saúde mental e emocional.

Quando uma pessoa recebe o diagnóstico de HIV, não é apenas o corpo que necessita de atenção.

A notícia vem carregada de angústias, inseguranças e medos. Freud ensinou que quando não conseguimos expressar nossos sentimentos, eles tendem a se manifestar de outras maneiras, muitas vezes como ansiedade, depressão ou até sintomas físicos. 

Tirinhas da Mafalda

O sofrimento que é mantido em silêncio se transforma em algo ainda mais difícil de carregar. É aí que entra a importância de dar voz às experiências e aos sentimentos.

No tratamento do HIV, os antirretrovirais (TARV) são fundamentais para garantir a saúde física e uma boa qualidade de vida. No entanto, como Freud destacou, cuidar da mente requer mais do que medicamentos. É preciso ter um espaço para falar, onde seja possível expressar a dor emocional, o medo do estigma e as dúvidas que acompanham o diagnóstico.

A "cura pela fala" aqui se refere ao alívio que vem quando as preocupações são finalmente compartilhadas, quando se dá nome ao que até então era um peso invisível.

Freud via o inconsciente como um lugar onde são depositadas memórias, afetos e desejos reprimidos. No contexto do HIV, muitos sentimentos acabam reprimidos — a vergonha, o medo do julgamento, a sensação de perda de controle sobre o próprio corpo.

A terapia como um complemento essencial ao tratamento médico.

Falar sobre esses sentimentos não só nos permite reconhecê-los, mas também ressignificá-los.

Ao trazê-los para o consciente, a pessoa começa a construir um novo entendimento sobre si mesma, não mais refém de suas emoções mais sombrias.

Assim como os medicamentos são cruciais para manter o vírus sob controle, falar sobre a infecção é fundamental para a manutenção da saúde emocional.

A fala ajuda a promover uma aceitação genuína possibilitando a descoberta de que, apesar dos desafios, a vida Pode Ser Leve e plena.

A cura pela fala, no contexto do HIV, não significa a eliminação do vírus, mas a transformação da relação com ele. Trata-se de um alívio para a alma — uma chance de compreender, aceitar e, finalmente, se libertar do peso das emoções que antes pareciam intransponíveis.

Como Freud mostrou, a expressão autêntica nos permite ressignificar o sofrimento, e assim, encontrar uma nova forma de existir, menos marcada pelo silêncio e mais alinhada com a leveza que todos buscamos.

“Em terapia a cura não significa que a ferida deixou de existir, significa que ela não controla mais a sua vida.”

A noção aqui de que a "cura" emocional não significa que a dor - trauma, ou a experiência negativa - desapareceu, mas que a pessoa conseguiu ressignificar e encontrar formas saudáveis de conviver com ela. 

A cura está em aprender a lidar com eles, não necessariamente em apagá-los.

Tá, mas quem sou eu para falar sobre feridas e curas emocionais?

A Educação de Aquiles pelo Centauro Quíron - Jean-Baptiste Regnault, 1829.

Na mitologia grega, repleta de lendas sobre deuses e heróis, existe uma história em especial, muito inspiradora.

Quíron, o rei dos centauros era inteligente, bondoso e civilizado. Ele se destacava dos demais não só pelo seu título de nobreza, ele era o mais sábio dos centauros ao contrário de seus irmãos que eram violentos, cruéis, brutos e indisciplinados.

Quíron conhecia profundamente sobre artes, magias, astronomia, música e medicina.

Uma vez, acidentalmente foi ferido por Hércules com uma flecha envenenada.

Como todo centauro, Quíron também era imortal e por isso não morreu, mas sua ferida não tinha cura. Quíron passaria sua eternidade carregando aquela ferida que lhe causava dor e sofrimento.

Tal sofrimento não foi em vão, fez com que Quíron a partir do contato com sua própria dor e toda sua sabedoria e bondade pudesse entender a dimensão do sofrimento daqueles que também carregam suas feridas.

Foi exatamente isso que fez dele o melhor de todos os curandeiros, sendo reconhecido assim como o curandeiro ferido.

O ferimento de Quíron e o meu HIV nos transformam em “curandeiros feridos” que por meio do contato com a nossa dor somos capazes de compreender a dor do outro e atuar sobre ela.

Pessoas marcadas por suas dores, quando cuidadas e transformadas, têm uma capacidade única de ajudar outras em seus processos de cura e transformação.

Muito prazer, sou Filipe Estevam, idealizador do projeto Pode Ser Leve, sou um homem gay vivendo com HIV há mais de 20 anos.

Sou psicanalista, especialista em sentimentos humanos e feridas emocionais, palestrante e produtor de conteúdo digital.

Há mais de 7 anos venho dedicando meu trabalho e atenção aos cuidados de pessoas da comunidade LGBT+ que vivem com HIV, auxiliando-as em seus processos de superação e aceitação do diagnóstico através do autoconhecimento.

Compartilho voluntariamente informações sobre autoconhecimento, estilo de vida saudável, bem-estar físico e emocional, e tudo o que envolve viver com HIV/AIDS aqui nesta newsletter - Mais Leve Do Que Nunca - no meu blog (www.podeserleve.com.br) e também no meu perfil no Instagram, (@filipe.estevam.leve) onde acolho e conscientizo mais de 20 mil seguidores todos os dias.

Meu objetivo é claro: promover a saúde física e mental, oferecendo um espaço seguro para acolhimento e diálogo aberto, sem julgamentos, sobre a infecção — tudo com o intuito de romper estigmas e preconceitos por meio da comunicação com afeto.

Te convido a trilhar essa jornada rumo à autoaceitação e superação do diagnóstico de HIV, e a descobrir comigo como a vida Pode Ser Leve, apesar dos desafios e dificuldades que ela nos apresenta.

👉️ Quer saber mais sobre como funcionam as minhas sessões de terapia ou quer agendar uma entrevista para dar início ao seu tratamento, clique aqui!

Forte abraço e até mais.
Filipe Estevam
#PodeSerLeve

Sejam bem-vindos e bem vindas à nova era do Pode Ser Leve, mais leve do que nunca.

Se você perdeu o primeiro capítulo que inaugura essa nova era onde eu explico os motivos que me levaram a apostar em uma newsletter, clique aqui!

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