HIV não é palco para vaidade. É trincheira coletiva.

💡 Mais Leve Do Que Nunca - Edição #024

Até o final dessa edição você vai enteder tudo sobre essa foto icônica.

 Super dica: Enquanto você lê esta edição, que tal ouvir "Born This Way", canção de Lady Gaga, na playlist do Mais Leve Do Que Nunca no Spotify?

(🔗Ouça agora no Spotify!)

Essa edição começa com uma frase:

“Um pássaro, quando aprende a voar, aprende mais sobre coragem do que sobre voo.”

Vivo com HIV há mais de 20 anos. Isso, por si só, já não é muita novidade. Mas uma coisa que toda pessoa que vive com HIV aprende, cedo ou tarde, é sobre coragem.

Coragem para se apropriar dos seus espaços.

Claro que isso não vem pronto. Ninguém nasce pronto — a gente vai ficando, no caminhar. A gente aprende. A gente se desafia todos os dias.

Tem algo dentro da gente que força um posicionamento. Uma força que insiste em ocupar os nossos espaços de direito.

Na última sexta-feira, dia 23, participei de uma audiência pública.

Uma audiência convocada para discutir o cumprimento e a aplicabilidade das leis e políticas públicas sobre HIV/Aids no Rio de Janeiro — prevenção, assistência, direitos e enfrentamento ao estigma.

Foi a minha primeira audiência pública. E, sinceramente, eu não fazia ideia do que estava fazendo lá.

Mas eu tinha uma certeza: era importante ocupar uma cadeira. Estar presente. Me fazer presente. Estar ali como força.

Porque a luta contra os estigmas, a discriminação e pela garantia de direitos das pessoas que vivem com HIV não é uma luta que se enfrenta sozinho — muito menos do conforto e da segurança de um telefone blindado pelos filtros do Instagram.

É uma luta onde a gente dá o sangue. Coloca a cara a tapa.

Quem é fã da Madonna sabe: “We go hard or we go home.”

Ali estava eu. Posicionado!

Com aquela cara de quem sabia o que estava fazendo — e, ao mesmo tempo, com a certeza de que a pior escolha seria me isentar desse debate.

Sou uma pessoa que vive com HIV. Dedico minha vida — inclusive meu trabalho em saúde mental — a essa causa. Tenho um canal no Instagram, escrevo esta newsletter, e agora, recentemente, fui nomeado presidente da ONG internacional Impulse.

Mas, afinal…

O que é uma audiência pública? O que rola lá e pra que serve?

Uma audiência pública é um espaço de debate e participação social.

É quando a população tem a chance real de se manifestar: trazer críticas, apontar falhas, fazer sugestões, denunciar o que não está funcionando e cobrar o cumprimento das leis.

Em outras palavras, é um instrumento democrático onde a sociedade civil tem voz e pode influenciar diretamente as decisões políticas e administrativas.

É a política de verdade: feita com gente de verdade, com histórias, urgências e coragem para dizer o que precisa ser dito.

É participação popular na veia.

É o Estado ouvindo o povo — e o povo se fazendo ouvir.

Nesta, em específico, tratava-se de uma audiência pública promovida pela Comissão do Cumpra-se! das Leis da ALERJ — a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.

O encontro contou com o apoio e a participação de diversas organizações que atuam na linha de frente da luta por direitos e políticas públicas: Grupo Arco-Íris, Aliança Nacional LGBTI+, Mães da Resistência, Rede de Jovens com HIV, Vidda-RJ e CEDAPS.

Na condução do debate estavam o deputado Carlos Minc e a vereadora Mônica Benício, duas figuras com atuação firme nas pautas de enfrentamento ao HIV/Aids no estado do Rio de Janeiro.

Naquela tarde, vivi uma das maiores oportunidades da minha vida: conhecer de perto — e estar ao lado — de grandes nomes e instituições que há anos estão na linha de frente, fazendo as coisas acontecerem de verdade.

Mas eu não estava ali como plateia. Estava como aliado!

E agora, como presidente da Impulse, mais uma força somada na defesa e promoção da saúde física e mental de pessoas que vivem com HIV.

Mesmo ainda “tímido”, chegando devagar num espaço cercado por nomes e instituições tão potentes, eu não perdi a chance: me apresentei e apresentei a Impulse. Fiz questão de estar ali não só com presença física, mas com escuta, com disposição, com entrega.

Porque além do cargo e dos títulos, eu me importo — de verdade — com as questões que assombram o dia a dia de quem vive com HIV nas periferias do Rio, da população preta, pobre, trans, carcerária.

Bem longe da minha zona de conforto e dos meus privilégios — sendo eu um homem gay, cis, branco, morador da zona sul do Rio de Janeiro.

Lembra da minha dúvida sobre o que eu, de fato, estava fazendo ali?

Ela logo se desfez.

Ficou claro: a luta está longe de terminar.

E ela não se faz só do conforto e da segurança da vitrine polida de um celular com filtro do Instagram.

HIV é uma luta coletiva. Não é palco para vaidade.

Hoje, minha vida está diferente. E é sobre essa mudança que esta edição do Mais Leve do que Nunca também quer falar.

Quero dividir tudo isso com você, que não só me acompanha, mas me apoia e fortalece. Você que se interessa pelas pautas do HIV, da saúde, da vida… e, acima de tudo, da coragem de estar presente onde é preciso estar.

Uma agenda social bem movimentada.

Dra Marcia Rachid, médica infectologista e autora do livro Sentença de Vida.

Depois da audiência pública — que durou não menos que cinco horas muito bem aproveitadas —, ainda havia a comemoração dos 36 anos do Grupo PelaVidda Rio. E, claro, eu não poderia ficar de fora.

Fundado em 1989 pelo escritor Herbert Daniel, o Grupo PelaVidda foi o primeiro grupo criado no Brasil por pessoas vivendo com HIV e AIDS, seus amigos e familiares.

Hoje, sob a liderança de Márcio Villar, a ONG segue firme com ações e iniciativas que contam com a intensa dedicação de voluntários e profissionais engajados na luta contra a epidemia no país.

Para essa celebração, fui convidado pela querida Márcia Rachid, médica infectologista e autora do livro Sentença de Vida, que traz — em duas edições — histórias reais de pessoas que viveram com HIV.

Foi uma noite de grandes emoções, lembranças, resistência e luta.

Teve de tudo: homenagens, choro, risadas, música, vídeos, performances de drags, comidinhas, bebidas e, claro… bolo de aniversário.

E, mais uma vez, conheci um monte de pessoas incríveis, mergulhadas até a cabeça no ativismo — gente que está na luta desde os tempos em que a AIDS não tinha tratamento e muitas vidas foram perdidas.

Mais do que uma celebração, foi uma grande oportunidade de criar novos laços e fortalecer redes.

Consegue perceber o tamanho da importância disso tudo?

Desculpe o transtorno, estamos em obras.

Esse é o tema — bastante sugestivo — da nossa cerimônia de posse e apresentação da nova formação da Impulse Rio, que vai acontecer aqui no Rio de Janeiro.

Este foi meu primeiro desafio como presidente da ONG: promover um evento para me apresentar oficialmente e, junto com a minha equipe, apresentar a nova Impulse à cidade.

Acontece que minha vida está bem diferente desde que aceitei esse novo desafio. E nada mais justo do que atualizar você sobre tudo o que anda acontecendo por aqui.

Então, vamos falar sobre a Impulse? Porque é bem importante que você a conheça mais de perto…

A Impulse é minha filha mais nova!

Ela chegou ao Rio de Janeiro em 2017 e, após uma pausa forçada nas atividades, voltou à ativa nos últimos meses. Mas não voltou como antes.

A Impulse renasceu.

Estamos passando por transformações profundas — estruturais, estratégicas, estéticas e afetivas.

A Impulse é uma ONG internacional ligada à AIDS Healthcare Foundation (AHF), composta por uma rede global de voluntários engajados na prevenção do HIV e no combate ao estigma que ainda atravessa tantas vidas.

Organizamos eventos, campanhas e ações que promovem:

  • A prevenção e o cuidado com o HIV/AIDS,

  • O bem-estar sexual, físico e mental,

  • O enfrentamento ao uso abusivo de substâncias, e

A promoção da justiça social em comunidades diversas.

Agora, estamos reconstruindo essa história com a cara e o charme do Rio de Janeiro — onde há samba no pé, coragem na luta e fé para enfrentar qualquer tempestade.

Uma nova Impulse

Os presidentes Latam: Eu - Rio de janeiro, Felipe - Santiago, Walter - lima e Fabian - México.

Uma Impulse renovada, pronta para acolher as diferenças, enfrentar as complexidades e celebrar a diversidade da nossa cidade maravilhosa.

Estamos reconstruindo uma Impulse que o Rio vai se orgulhar de chamar de sua.

A Impulse é o braço jovem, criativo, engajado e irreverente da AHF.

Um coletivo internacional formado por pessoas LGBTQIA+ que vivem com HIV ou que estão na linha de frente da luta contra o estigma, a desigualdade e o silêncio.

Fundado em 2009 por José Ramos, o Impulse Group é uma organização sem fins lucrativos dedicada a construir uma comunidade mais forte, mais consciente e mais saudável para homens gays e outras pessoas da comunidade LGBTQIA+.

Presente em mais de 26 cidades ao redor do mundo, o Impulse organiza mais de 400 eventos por ano, sempre com o objetivo de criar espaços seguros, afetivos e politizados, onde possamos nos engajar, apoiar uns aos outros e fortalecer nossa rede de cuidado.

Tudo isso é feito em parceria com a maior organização de resposta ao HIV/AIDS do mundo: a AIDS Healthcare Foundation (AHF).

A AHF financia suas operações por meio de uma rede própria de farmácias, brechós, contratos de saúde e parcerias estratégicas. São recursos que sustentam ações em países da América Latina e Caribe, América do Norte, Europa e Ásia — sempre com foco na prevenção, no tratamento e na dignidade.

Na América Latina, o Impulse já está presente na Cidade do México, Santiago, Buenos Aires, Guadalajara, Lima e São Paulo.

E agora, com muito orgulho, retomamos oficialmente nossas atividades aqui na minha cidade maravilhosa.

A Impulse chegou ao Rio de Janeiro.
E chegou pra ficar.

HIV: O despertar para uma nova vida

Voltando ao início… lembra da frase que abre esta edição?

“Um pássaro, quando aprende a voar, aprende mais sobre coragem do que sobre voo.”

Essa edição celebra um marco imenso na minha história: assumir a presidência de uma ONG internacional.

Claro que isso me enche de orgulho.

Mas esse texto foi escrito com muito cuidado — não para inflar meu ego, nem para me colocar no centro do debate.

Qual é, então, a importância desse texto?

Quando nossas vidas são atravessadas pelo HIV, nossa mente é imediatamente tomada pelos piores sentimentos.

Um buraco se abre debaixo dos nossos pés, e a sensação é a de viver o nosso pior pesadelo.

A gente teme a morte, sim.

Mas, muitas vezes, o medo maior é o de viver.

Viver com a possibilidade da rejeição.
Viver com o risco do abandono.
Viver sob o peso do julgamento.

Alguns conseguem enfrentar esse medo.

Mas nem todos. Muitas vidas ainda são perdidas — não para o vírus, mas para o sofrimento, a insegurança, o silenciamento.

Perdemos o que há de mais precioso: a nossa espontaneidade, a nossa autoconfiança.

E é aí que está a importância deste texto.

Ele está aqui para te lembrar que o HIV não é o fim. Não é uma sentença. Talvez, seja justamente o despertar para uma nova vida.

Uma vida com mais sentido.
Mais autenticidade.
Mais coragem.
Mais presença.

Porque um vírus não pode resumir nem limitar a sua existência.

Hoje, o meu grito está mais forte.

Minha força se une à de um coletivo de voluntários ativos — não só no Rio de Janeiro, mas em todo o mundo.

HIV não é palco para vaidade. É trincheira coletiva.

Este texto é sobre revolução, coragem e resistência. Mas, acima de tudo, é sobre pertencimento.

É sobre ocupar nossos espaços com dignidade e potência.

Agora, mais do que nunca, nós vamos mudar essa história. E eu tenho certeza que você vai estar comigo.

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Por hoje a gente fica por aqui, até domingo que vem.
Abraços,

Filipe
#PodeSerLeve #MaisLeveDoQueNunca

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Na edição da semana passada, recebi ela! Victória Carmel (@hivictoriacarmel) que vive com HIV há 7 anos e desde então compartilha sua jornada nas suas redes socias.

Victória compartilhou com a gente sua trajetória como drag Queen e ativista, e como usa sua arte para transformar e inspirar vidas.

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The White Lotus (MAX)
Qual é a história? Durante uma semana em um luxuoso resort da rede The White Lotus, hóspedes e funcionários veem suas vidas entrelaçadas em meio a tensões inesperadas.A cada dia, novas questões emergem, revelando as complexidades e hipocrisias por trás das aparências impecáveis dos turistas. Entre jantares luxuosos e sessões de relaxamento, segredos são expostos, relações se desgastam e a tensão se intensifica, afetando hóspedes e funcionários de maneiras inesperadas. Ao combinar humor ácido e drama sofisticado, The White Lotus oferece uma crítica mordaz sobre a fragilidade das relações humanas em meio ao luxo e ao desejo de escapismo. (fonte: adorocinema.com)

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“Uma análise é árdua e faz sofrer. Mas, quando se está desmoronando sob o peso das palavras recalcadas, das condutas obrigatórias, das aparências a serem salvas, quando a imagem que se tem de si mesmo torna-se insuportável, o remédio é esse. Pelo menos, eu o experimentei e guardo por Jacques Lacan uma gratidão infinita (…). Não mais sentir vergonha de si mesmo é a realização da liberdade (…). Isso é o que uma psicanálise bem conduzida ensina aos que lhe pedem socorro.

GePerec, Penser/classer, Paris, Hachette, 1995. Françoise Giround, Le Nouvel Observateur, N° 1610, 14-20 de setembro de 1995.

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