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Surubão no Arpoador: nossa sexualidade marginalizada
💡 Mais Leve Do Que Nunca - Edição #013

Um final de tarde de um domigo qualquer no Arpoador.
✨ Dica: Leia esta edição ouvindo Faz Parte Do Meu Show de Cazuza na playlist do Mais Leve Do Que Nunca no Spotify (🔗Ouça agora no Spotify!)
“Vago na lua deserta
Das pedras do Arpoador
Digo "alô" ao inimigo
Encontro um abrigo
No peito do meu traidor
Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor”
“Bota na boca, bota na cara. Bota onde quiser”
A palavra "orgia" tem origem no grego antigo "orgia" (ὄργια), que se referia originalmente a rituais religiosos ou cerimônias de caráter sagrado, especialmente os mistérios dionisíacos.
Esses rituais eram dedicados a deuses, como Dionísio (deus do vinho, do êxtase e da fertilidade), e envolviam cânticos, danças, oferendas e celebrações intensas, muitas vezes com conotações de êxtase místico ou transcendência.
No contexto original, "orgia" não tinha a conotação exclusivamente sexual que se associa à palavra atualmente.
Com o tempo, especialmente durante o período romano e posteriormente, o termo começou a ser relacionado a festas licenciosas e excessos sensoriais.
Ganhando o significado mais secular e hedonista que prevalece hoje em muitas línguas modernas.
Portanto, a evolução semântica do termo reflete a transformação cultural e histórica, passando de rituais sagrados para algo associado ao prazer desmedido e à “libertinagem” e “promiscuidade”.

Nicolas Poussin - The Triumph of Pan, 1636
Deus me livre, mas quem me dera.
Não estou aqui para dizer que sou a favor da orgia que aconteceu no Arpoador, no Rio de Janeiro.
A pedra, um famoso ponto turístico, que foi inspiração poética para Cazuza, ganhou mais destaque por abrigar o agora lendário "Surubão do Arpoador".
Mas que fique claro que também não estou aqui para dizer que sou contra.
Até porque esse - o surubão - é um assunto que merece ir muito além do nosso olhar julgador e das nossas opiniões fáceis e superficiais de ser contra ou a favor.
Ele nos convida a refletir sobre desejos, liberdade e, acima de tudo, os tabus, as regras morais e normas sociais que carregamos, muitas vezes sem perceber.
Falar do comportamento do homem gay sem moralismos não é só uma escolha: é uma necessidade.
Em uma sociedade que historicamente marginaliza e criminaliza nossas experiências, precisamos de “espaço” para discutir prazer, culpa e repressão — e como tudo isso molda a maneira que vivemos e nos relacionamos.
Eu tinha um texto totalmente diferente pronto para esta semana.
Só que o "surubão" explodiu na web, e deixar esse assunto passar seria uma oportunidade perdida.
Principalmente porque nessa newsletter a gente fala sobre tudo que envolve a nossa comunidade LGBT+ e o surubão não poderia ficar fora dessa.
✨ Dica rápida: Antes de avançarmos, quero lembrar que ao final de cada edição há um espaço reservado para comentários. Saber suas impressões sobre minhas reflexões é muito importante para mim.
Trocas aqui são sempre muito bem vindas, então não deixe de comentar!"
Diz o ditado: onde tem gay, não tem paz

Bíceps com halteres: 4 séries de 12 reps.
Mudando um pouco o cenário, saindo do Arpoador e agora na minha academia em Copacabana, estava fazendo meu treino de bíceps quando uma colega de treino veio comentar sobre o tal "surubão".
"Filipe, você ficou sabendo sobre aquela confusão no Arpoador?"
Eu, rindo, respondi: "Soube sim!" E completei: "Amiga, é assim… você não sabe? Onde tem gay, não tem paz."
Logo na sequência, suas opiniões:
"Acho que tudo bem, você pode fazer o que quiser, mas num lugar público? Com famílias e crianças? Para todo mundo ver, é desrespeitoso."
E continuou:
"O corpo é sagrado, e é importante que a gente saiba cuidar dele, não ficar se expondo ou se arriscando assim desse jeito."
Errada ela não está, mas também não está completamente certa.
Os julgamentos morais refletem repressões conscientes e inconscientes, fruto de uma complexa construção histórica moldada por padrões heteronormativos.
E é exatamente por isso que esse texto está tão importante para ganhar uma edição extraordinária no Mais Leve do Que Nunca - a primeira do ano.
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