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Dezembro Vermelho: O silêncio também mata
💡 Mais Leve Do Que Nunca - Edição #032
✨ Super dica: Enquanto você lê esta edição, que tal ouvir "Tá Escrito”, canção do Grupo Revelação (2006), na playlist do Mais Leve Do Que Nunca no Spotify?
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Faltam menos de 15 dias para o final do ano e olha o tamanho do meu desafio…
Eu posso imaginar o tamanho do seu corre. Final de ano chegando e nada de novo sob o sol: ninguém mais tem tempo para nada. Você está tentando dar conta de tantas coisas, tudo ao mesmo tempo — dar conta das suas próprias angústias e, ao mesmo tempo, cumprir uma lista aterrorizante de tarefas infinitas que se multiplicam como se fossem gremlins molhados.
Nessa maratona, tem algo em você que é muito caro e o mundo está disputando como se fosse um diamante ou um barril de petróleo: a sua atenção.
O que faz a minha vida ficar mais difícil é o seguinte: como escrever uma edição especial de Dezembro Vermelho que faça você ficar comigo até o final… enquanto o mundo inteiro está despejando conteúdos brilhantes sobre o mesmo assunto?
A resposta veio tão absurda que parece até piada: não escrever nada.
Não falar mais sobre HIV.
Não informar nada sobre todos os grandes avanços da medicina conquistados nos últimos 40 anos.
Não desmistificar os estigmas associados à infecção.
Não explicar nada sobre os tratamentos hoje mais atualizados e simplificados.
Não lembrar da nossa maior urgência: métodos de prevenção.
O caminho mais fácil? Não fazer nada.
Não produzir texto, não criar post, não levantar bandeira nenhuma.
Silêncio!
Aliás, o silêncio já é a regra para muita gente.
Se você parar para analisar, o silêncio que deveria permanecer nos limites do direito acaba se tornando uma regra moral de aprisionamento e solidão.
O silêncio é o “pacto social” confortável que varre o HIV/AIDS para debaixo do tapete.
O silêncio é o que faz a vida de milhares de pessoas parecer mais “segura”… e, ao mesmo tempo, mais solitária.
É aqui que mora o maior e mais perigoso paradoxo: o mesmo sigilo que protege também adoece.
Ele impede a discriminação e alimenta, fortalece o medo.
Ele defende, mas também isola.
É a lei do silêncio que impera(?).
É melhor não falar para não ser rejeitado.
É melhor não contar para não correr riscos.
É melhor se esconder, porque o mundo ainda não aprendeu a lidar com essa conversa e também, não quer aprender.
E sim, o sigilo é garantido por lei: ninguém é obrigado a revelar sua sorologia. Nem em uma relação amorosa, nem no sexo casual, nem na vida. A lei te protege.
E também te coloca nesse território nebuloso e solitário entre o direito de calar… e o preço emocional que esse silêncio cobra.
E se a gente simplesmente cumprir a lei que nos defende e não falar nada?
Simplesmente silenciar?
Mas calma: o sigilo é um direito, nunca uma obrigação.
Porque o sigilo está aí para nos defender, mas ele também tem um custo alto. O silêncio pode virar um modo de sobrevivência… e, sem perceber, um modo de aprisionamento.
“Não falar sobre” é o fio condutor desta edição #031 do Mais Leve Do Que Nunca, especial Dezembro Vermelho. Uma edição que propõe uma costura entre o direito legítimo ao sigilo, o desafio de falar sobre HIV e a psicanálise, trazendo como provocação central a fala como um processo infalível de cura.
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