Os vilões devoradores de sonhos.

Mais Leve Do Que Nunca - Edição #010

Virada do ano em Copacabana.

✨ Dica: Leia esta edição ouvindo Seja Gentil de Kell Smith na playlist do Mais Leve Do Que Nunca no Spotify (clique aqui!)

Você já passou a virada do ano assistindo à queima de fogos em Copacabana?

Há quem ame e há quem queira sumir do Rio de Janeiro nesta época.

O meu ritual tem sido o mesmo nos últimos anos: quando chega mais ou menos por volta de 23:15, eu e meus amigos começamos a nos organizar para descer do apartamento (onde já rola uma festinha) até o calçadão em Copa.

Assistirmos aos fogos com o pé na areia e uma tacinha de espumante gelado na mão para o brinde.

Depois dos fogos, a gente ainda fica um tempo pelo calçadão, olha o movimento, ouve umas músicas, mas logo volta para casa — longe dos “perigos noturnos” — para continuar a festa.

Longe dos “perigos noturnos”

Para este ano, as minhas expectativas estão bem altas.

O réveillon aqui em Copacabana promete uma queima de fogos épica com shows da Ivete, Anitta, Caetano e Bethânia.

Num palco montado em frente ao Copacabana Palace, no mesmo lugar onde foi o show da Madonna.

As noites de réveillon carregam consigo um sentimento especial: a esperança.

A não ser o significado simbólico que eu e todas as 2 milhões de pessoas que saíram de suas casas e foram até Copacabana damos para essa noite.

Se analisarmos com certa frieza, não há nada de tão especial em uma noite que, como todas as outras do ano, encerra um dia para iniciar o outro.

E começar tudo de novo no dia seguinte.

Chegamos no final de 2024 todos exaustos física e emocionalmente de um ano inteiro que se passou com todas as suas dificuldades e desafios.

Para muitos, esta noite de ano novo vem como um respiro de esperança.

Não de um ano novo, mas sim de uma vida nova.

Mas a esperança nunca vem sozinha; chega acompanhada de mãos dadas com a ingenuidade.

Nós acreditamos que, depois de pular as 7 ondas, entregar as oferendas para Iemanjá, comer as uvas e guardar as sementes de romã na carteira, a partir daquela noite as coisas todas serão diferentes.

Mas a segunda-feira chega, o despertador toca bem cedo e, quando você repara… Tudo está exatamente igual.

A noite do réveillon em Copacabana, cheia de cores, sons e expectativas, contrasta com a dura realidade inevitável do "dia seguinte".

Você até se dedicou a planejar uma lista atualizada com as novas metas para 2025, mas que, infelizmente, dificilmente algumas delas sairão do papel.

Exatamente como tem sido com todos os seus projetos de listas de metas nos últimos anos.

Lista de metas para 2025:

- Começar a fazer exercícios físicos.
- Perder peso.
- Comer de forma mais saudável.
- Ler mais Livros.
- Matricular no curso de inglês.
- Ser mais organizado.
- Pagar minhas dívidas.
- Economizar dinheiro.
- Conseguir um novo emprego.
- Desenvolver habilidades profissionais.
- Viajar mais.
- Dedicar tempo a um hobby.
- Começar terapia.
- Dedicar mais tempo á pratica da espiritualidade.
- Parar de fumar e reduzir o consumo de álcool.
- Passar menos tempo nas redes sociais.

Apenas mais uma lista muito comum com metas de ano novo

De alguma forma, você é tomado mais uma vez pela sua lista de urgências, distrações e imprevistos.

Deixando de lado seus projetos pessoais, seus sonhos e objetivos de vida.

Como resultado disso, você encerra um ano e começa o outro ainda mais ansioso pelas mudanças, mas também cheio de novas exigências.

Seu nível de autocobrança alcançou o patamar mais alto que você já experimentou na vida.

Você se sente frustrado, insuficiente, desmotivado.

Esses sentimentos parecem monstros sugadores de energia que ganham força toda vez que, observando a tela do seu celular, você compara a sua vida com a vida "perfeita" e cheia de acontecimentos incríveis compartilhados por desconhecidos nas redes sociais.

Frustração e insuficiência

Levante a mão quem não está tomado pelo sentimento de frustração e insuficiência no final do ano. Difícil, né?

E não se engane, não ache que, mesmo eu sendo psicoterapeuta, não sou acometido por todos esses sentimentos.

Chega dezembro, e somos invadidos por uma pressão autoimposta: metas que ficaram para trás, pendências que insistem em se acumular, e a sensação de que ainda há tanto a fazer antes de virar a página do calendário.

É a hora de tentar dar conta de tudo: arrumar o armário, comprar os presentes, planejar a ceia, organizar a viagem de réveillon e, claro, lidar com as caixinhas de Natal que chegam de todos os lados.

“Como fui triste em 2024 se neste ano eu…”

E como se isso não bastasse, você abre as redes sociais. Lá está, em destaque, a vida perfeita de todo mundo.

Você se frustra porque a sensação de impotência veste a sua alma.

Parece que algo de errado tem em você, já que a sua realidade é muito diferente de todo o resto do mundo:

  • Você não fez nenhuma viagem incrível.

  • Você não conheceu nenhum dos restaurantes mais badalados.

  • Você não passou nos concursos que prestou.

  • Sente-se sozinho, ninguém te pediu em namoro.

  • Também não conquistou o corpo dos sonhos, nem a conta bancária desejada.

As cobranças internas se juntam à fantasia de um "eu melhorado", criando um abismo que separa você e a alegria de curtir as festas de final de ano com a leveza e a espontaneidade que deveriam ser.

O resultado? Um cansaço que vai além do físico.

É um esgotamento emocional.

Frustração, insuficiência e a exaustão de quem, mais uma vez, se sente aquém das próprias expectativas.

Os vilões devoradores de sonhos

Você tem medo do que?

Toda jornada de um herói é desafiada por um grande vilão e seus aliados.

Mesmo que agora você esteja mergulhado no poço da insatisfação, se sentindo paralisado e frustrado com a sua vida diante das suas (não) conquistas, fica difícil de acreditar que todos nós - inclusive você - somos heróis da nossa própria história, vencendo nossos inimigos externos e internos todos os dias.

Aqui temos uma certeza: para vencer qualquer batalha, é imprescindível que você conheça intimamente os seus inimigos.

Ignorá-los é garantia de uma batalha perdida.

Selecionei os 7 mais perigosos vilões que nos desafiam todos os dias e que nos fazem abandonar os nossos sonhos e desistir deles:

1. Comparação

Nada nos consome mais do que comparar nossos bastidores com os destaques dos outros.

A comparação é uma régua cruel e arbitrária que mede nossas conquistas, ignorando o contexto ou os esforços por trás delas.

Ela mina nossa confiança, cria uma falsa sensação de inadequação e desvia nossa energia dos nossos próprios sonhos.

Afinal, como lutar por algo que parece nunca estar à altura do que o outro já alcançou?

O ciclo é exaustivo: nos comparamos, nos sentimos pequenos e, sem perceber, sabotamos nossa própria trajetória.

2. Medo do fracasso, das críticas e dos julgamentos

Quantos sonhos já foram engavetados antes mesmo de serem tentados, simplesmente pelo medo de não dar certo?

O fracasso carrega um peso cultural imenso — um sinal de julgamento, de críticas e, muitas vezes, dá a sensação de não ser suficiente.

Esse medo nos paralisa, fazendo com que nos acomodemos no "seguro" e no previsível, mesmo que isso custe a realização dos nossos desejos mais profundos.

3. Sonhos desconectados com a realidade e metas inatingíveis

Sonhar grande é importante, mas, às vezes, nossos sonhos ignoram as limitações de recursos, tempo ou contexto.

Metas que parecem inatingíveis podem se transformar em um peso esmagador, gerando paralisia ao invés de motivação.

Essa desconexão entre sonho e realidade não significa que você deve pensar pequeno, mas sim que é essencial criar um caminho viável para alcançar o que deseja.

Sem passos claros ou objetivos intermediários, o sonho fica no plano das ideias, gerando frustração e, muitas vezes, abandono.

Ter grandes aspirações é saudável, mas as metas precisam ser realistas o suficiente para inspirar ação, e não medo.

Cada grande conquista começa com passos possíveis — pequenos e consistentes, mas alinhados com a sua realidade.

4. Falta de foco e distração

Vivemos em um mundo onde a atenção é uma moeda disputada.

Entre notificações incessantes, redes sociais e a pressão de multitarefas, nossa mente é constantemente puxada em várias direções.

Essa dispersão faz com que os sonhos percam prioridade, sendo frequentemente deixados de lado em meio às urgências do dia a dia.

Manter o foco é como cultivar um jardim: exige cuidado e intenção.

Que tal refletir sobre quais atividades realmente impulsionam você em direção aos seus objetivos?

Reduzir distrações pode ser o primeiro passo para recuperar a consistência e a determinação necessárias para perseguir o que você deseja.

5. Priorizar os sonhos de terceiros e deixar os seus de lado

Quando os sonhos de outros roubam o palco...

Quantas vezes você colocou os desejos de outras pessoas à frente dos seus próprios?

Pode ser por querer agradar, evitar conflitos ou até por medo de parecer egoísta.

O resultado? Seus próprios sonhos acabam relegados ao segundo plano, como se não fossem tão importantes.

É claro que ajudar os outros é valioso, mas há uma linha tênue entre apoiar e abandonar a si mesmo.

Priorizar constantemente os objetivos alheios pode criar ressentimento e frustração, além de impedir que você se realize plenamente.

6. Falta de suporte, incentivo e uma rede de apoio potente

Perseguir um sonho é uma jornada que muitas vezes exige coragem, resiliência e... apoio.

Quando falta incentivo ou uma rede de pessoas que acreditam em você, o caminho pode parecer solitário e mais difícil do que realmente é.

O suporte pode vir de várias formas: palavras de encorajamento, ajuda prática ou simplesmente alguém que escuta e valida suas escolhas.

Sem isso, a dúvida pode se instalar, o desânimo pode tomar conta, e até os maiores sonhos podem parecer pequenos ou inalcançáveis.

Se você sente que falta essa rede, talvez seja o momento de buscá-la intencionalmente. Compartilhar suas aspirações com pessoas certas ou se conectar com grupos que compartilhem dos mesmos ideais pode fazer toda a diferença.

Afinal, ninguém precisa (nem deveria) carregar o mundo nas costas sozinho.

7. Falta de confiança em si mesmo

"Esse profundo ato de confiança em si e no processo da vida garante a passagem pelo vazio que magicamente se concretiza em chão sob nossos pés. O que não existia passa a existir e um novo lugar amplo se faz presente."

Nilton Bonder, A Alma Imoral (pag. 50)

Não deixei este vilão por último à toa. Com certeza de todos, o mais perigoso.

Sem autoconfiança, até mesmo os menores desafios se transformam em barreiras intransponíveis.

É como caminhar sobre um terreno invisível, onde cada passo parece frágil demais para sustentar nossos sonhos.

A falta de confiança não nasce do nada — ela se alimenta de dúvidas acumuladas, crenças limitantes e experiências que reforçam a ideia de que "não sou bom o suficiente".

Com isso, ficamos presos em um ciclo de autossabotagem, evitando riscos e abandonando projetos antes mesmo de tentar.

Mas é exatamente nesses momentos de dúvida que um profundo ato de confiança se faz necessário.

Construir uma autoconfiança sólida não acontece da noite para o dia, mas é o primeiro passo para transformar sonhos em realidades tangíveis.

E se você estivesse diante do gênio da lâmpada, o que pediria?

Um passo de ter sua vida transformada.

Imagine que o impossível finalmente aconteceu.

Você está diante do fabuloso Gênio da lâmpada mágica e a apenas minutos de ter o seu maior sonho realizado, transformando sua vida sem grandes esforços.

Você tem direito a apenas um desejo.
O que você pediria?

  1. Bilhões de dólares na sua conta, para que você e as próximas gerações não precisem mais pensar em trabalhar?

  2. Você pediria pela cura de uma doença incurável, que ainda desafia os tratamentos da medicina convencional?

  3. Ou talvez escolheria a fama, o reconhecimento e a admiração?

Infinitas são as possibilidades de desejos.

Não é de se espantar, porém, que a maioria desses desejos esteja alinhada com ganhos materiais, ao invés de promover o crescimento pessoal ou beneficiar a humanidade como um todo.

Raramente alguém, diante dessa oportunidade, lembraria de pedir pela:

  • Paz mundial,

  • Pela extinção da fome ou

  • Pela transformação do mundo em um lugar mais justo e igualitário.

Diante de tanta desigualdade, injustiça social e uma lógica que privilegia o acúmulo de riquezas enquanto esvazia e despreza o ser em favor do ter, não é surpresa que enfrentemos um cenário com valores tão distorcidos.

Resumidamente, assim funciona a lógica: você vale o tanto que você produz e o tanto de coisas que você acumula e exibe.

Como resultado, estamos perdidos de nós mesmos.

Vagamos pela vida, muitas vezes alienados, desejando coisas aleatórias das quais nem sabemos o que realmente significam ou qual a sua importância.

Perdemos nossa autenticidade e espontaneidade.

Estamos exaustos, aprisionados em um ciclo vicioso que oscila entre a tirania da autocobrança e a obsessão pela produtividade.

Tá, mas como freud explica isso?

Fale mais sobre isso…

O que está em questão, então, não são mais as metas que você lista, mas o que, nelas, realmente te faz feliz — livre das comparações e da vaidade do seu ego.

Mas, principalmente, livre das regras tiranas do supereu.

Freud via o supereu como essencial para a formação da civilização, pois ele regula os impulsos humanos em prol da convivência social.

O supereu se forma, principalmente, durante a infância, como resultado da internalização das normas, valores e proibições dos pais e da sociedade.

Sua função é agir como um juiz interno, avaliando os pensamentos, ações e desejos do indivíduo com base nas normas culturais e éticas.

Ele tem duas funções principais:

  1. Criticar: Repreender comportamentos ou pensamentos que violam as normas internalizadas.

  2. Idealizar: Propor ideais de perfeição que o indivíduo deve aspirar.

Um supereu muito rígido pode gerar sentimentos intensos de culpa e autocrítica, enquanto um supereu fraco pode resultar em comportamentos impulsivos e falta de ética.

As consequências disso são visíveis no nosso dia a dia, especialmente no final do ano.

Talvez nada disso seja sobre metas, mas sobre verdade.

Alice pergunta ao Gato:
— Você pode me ajudar?

O Gato responde:
Sim, pois não.
Onde vai esta estrada? — perguntou Alice.
Para onde você quer ir?
Eu não sei, estou perdida.
Para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve. — retruca o Gato.

Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas

Agora, chegamos à reta final desta edição do Mais Leve Do Que Nunca, com a esperança de que minhas palavras consigam abraçar o seu coração, que talvez esteja aflito, sufocado por tantas regras, exigências, expectativas e cobranças que você se impôs.

Lembre-se de que a exigência caminha de mãos dadas com a intolerância.

E, hoje, o que a humanidade precisa são pessoas mais tolerantes, não só com os outros — mas principalmente com elas mesmas.

Saiba acolher suas falhas, os seus limites e respeitar o seu processo.

Contra toda forma de intolerância, a generosidade e a compreensão sempre serão o melhor remédio.

No final das contas, talvez não seja sobre as metas de fim de ano que projetamos para o futuro.

É fácil e, ao mesmo tempo, perigoso cair na armadilha de achar que seremos felizes apenas ao conquistar algo grandioso, algo que impressione o mundo.

Mas a verdade é que o que realmente importa não está em uma agenda de metas ou nos padrões alheios.

Está na SUA VERDADE!.

É essa verdade que carrega as respostas para o que te move, para o que faz sentido na sua vida, e para o que, no fundo, te faz feliz.

O que transformará sua vida de forma efetiva não será uma lista exigente de obrigações, conquistas materiais e metas desumanas.

O que irá transformar a sua vida é estar conectado com a sua verdade, com a sua essência.

Encontrá-la pode ser desafiador, principalmente em um mundo que constantemente nos empurra para longe de nós mesmos.

Em um mundo que a todo momento, somos estimulados a competir e nos comparar.

Mas, talvez, o maior gesto de coragem que você possa ter nesse novo ano seja olhar para dentro, desconectar-se das comparações e se perguntar:

O que é verdadeiro para mim?

Porque só quando vivemos a partir da nossa verdade é que conseguimos encontrar um pouco de paz, autenticidade, espontaneidade e…

a leveza para seguir adiante.

Bom, por hoje ficamos por aqui, até semana que vem.
Forte Abraço,

Filipe Estevam
#PodeSerleve #DezembroVermelho #QuantoMenosNormalMelhor

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A Baleia, 2023
Charlie é um professor de inglês recluso, que vive com obesidade severa e luta contra um transtorno de compulsão alimentar. Ele dá aulas online, mas sempre deixa a webcam desligada, com medo de sua aparência. Convive diariamente com a culpa, por ter abandonado sua filha que ele deixou junto com a mãe Mary ao se apaixonar por um homem.

📖 (3) O que estou lendo:

Por Que A Psicanálise?
Elisabeth Roudinesco

💡 (4) Pensamento do dia:

“A comparação paralisa a ação.”

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